segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Os verbos "haver" e "fazer"

Seção: Língua e Etiqueta
Certa vez, um site de uma escola de redação anunciava que tal estabelecimento ensinava a seus alunos uma Gramática útil. É fácil de se perceber que está aí implícita a opinião de que há conteúdos gramaticais inúteis. A escolha pelos antônimos útil e inútil, portanto, não foi muito feliz. No entanto, não é complicado de se entender o que o anunciante quis dizer com sua propaganda.
Há na língua portuguesa, certamente, assuntos que são de primeira grandeza (ou de mais valia). A alguém que não é professor de português, saber conjugar verbos corretamente é de muito mais utilidade do que saber o que é uma oração subordinada substantiva completiva nominal reduzida de infinitivo não-flexionado.
Um desses conteúdos gramaticais de primeira grandeza é, indiscutivelmente, o conhecimento de certa particularidade dos verbos haver e fazer. Os manuais didáticos postulam que o verbo haver, quando significar (ou puder ser substituído por) existir, é impessoal – o que quer dizer que ele não vai para o plural. Veja:

Houve (=Existiram) várias discussões durante a reunião. (e não Houveram várias discussões)
Havia (= Existiam) vários assuntos pendentes a resolver. (e, não, Haviam vários assuntos)

A propósito dos verbos fazer e haver, a Gramática diz que, quando eles indicarem tempo decorrido, ambos são também impessoais. Observe:

Faz quatro anos que não a vejo. (e não fazem quatro anos)
Amanhã fará cinco dias que ela não fuma. (e não farão cinco dias)
Havia duas semanas que não conversava com o marido. (e não haviam duas semanas)

Significando "existir" ou indicando tempo decorrido, caso os verbos haver e fazer façam parte de uma locução verbal, eles têm o poder de “contaminar” os verbos precedentes com sua impessoalidade. Em outras palavras: nenhum dos verbos deve ser pluralizado; todos devem ser mantidos no singular.
Exemplos:
Antes de eu chegar, deve ter havido (= devem ter existido) muitas discussões.
Deve fazer umas duas horas que eu não me encontro com Pedro.
Os indícios levam a crer que pode ter havido (= podem ter existido) mais de mil casos da doença no país.

Sem dúvida alguma, essas peculiaridades dos verbos haver e fazer devem ter figurado na grade de conteúdos ensinados por aquela escola de redação. Se não o fez, a escola foi falha. Da mesma forma como, em seu carro, um condutor deve trazer um kit primeiros-socorros, um falante de língua portuguesa deve ter, no mínimo, o conhecimento de uma Gramática primeiros-socorros.
Fernando Sachetti

Um comentário:

  1. Nossa Fernado, amei essa aula de gramática. Parabéns, você além de um excelente professor, é um maravilhoso escritor. Te adoro. Beijos

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