segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

"Eu já fumei maconha durante muitos anos"

Seção: Isso aconteceu!




Drogas. Aí está um tema delicado a ser tratado.
A atração pelo mundo das drogas não me parece ser algo dependente de estímulos externos. Creio que ninguém é influenciado a usar drogas; as pessoas, simplesmente, se apoderam de declarações de outros usuários para justificar a satisfação de uma vontade previamente já existente. Portanto, ao ouvir uma declaração como a feita no vídeo acima, Ney Matogrosso não perde prestígio algum a meu ver. É inegável, no entanto, que sua confissão pode servir de muleta a alguém que já tenha enraizada a curiosidade de fumar maconha. Àqueles que não têm essa vontade enraizada, a declaração eu já fumei maconha é tão insignificante quanto eu já comi nabo. Cada indivíduo sabe exatamente o que quer experimentar, independentemente de comportamentos alheios.
E, já que estamos falando de Ney Matogrosso, me permito ir até um pouquinho mais longe: atentados discriminatórios contra gays me parecem ser uma estratégia de quem quer extinguir a todo custo qualquer centelha que possa incitar a satisfação de um impulso gay já previamente existente. Em termos mais simples: o preconceito contra gays é tolo, imbecil e infundado. Cada indivíduo sabe exatamente o que quer experimentar, independentemente de comportamentos alheios.
Será que me fiz claro?
Fernando Sachetti.

Parônimos II

Seção: Parecia confuso?
ESTANTE (superfície sobre a qual se acomodam objetos): O livro que eu quero que você pegue está na segunda estante, de baixo para cima.
INSTANTE (espaço de tempo; momento): Foi nesse instante que ela começou a chorar.
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COXA (parte do corpo): Este exercício vai deixar sua coxa bem torneada.
COLCHA (manto que cobre uma cama): A colcha branca combina melhor com a decoração do seu quarto.
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CORO (grupo organizado de vozes): Qual te pareceu mais afinado: o coro infantil ou o adulto?
COURO (material proveniente de pele animal): Eu gostaria de saber o preço daquela jaqueta de couro.
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CIFRÃO (símbolo ($) que indica unidade monetária, moeda): O "S" do cifrão deve ser cortado por uma única linha vertical.
SIFÃO (em pias, tudo em forma de S através do qual a água é escoada): Você está vendo a goteira no sifão da pia? Acho que terei que trocá-lo.
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CHALÉ (construção de estilo suíço): Na Serra Gaúcha, pude ver alguns chalés muito charmosos.
XALE (peça do vestuário feminino usada sobre os ombros ou ao redor da cintura): Peguei um xale bem elegante da minha avó pra ir ao evento.
Fernando Sachetti.

"História concisa do Teatro Brasileiro", de Décio de Almeida Prado

Seção: Você pode saber mais!
Contava o Rio de Janeiro, em 1906, segundo o Almanaque Teatral da Livraria Cruz Coutinho, com onze teatros. De quatro só constam praticamente o nome, fazendo supor que se tratassem de edifícios menores, destinados talvez a gêneros também menores, como o café-concerto e o teatro de variedades. Sobre os outros, temos dados concernentes pelo menos à lotação. São teatros amplos, concebidos nos moldes consagrados pelo século XIX. (...) – p. 169
O espetáculo, em tais circunstâncias, definia-se sobretudo como início da vida noturna, que continuaria em ambientes mais propícios às expansões amatorias. Esses claros apelos à sexualidade, lançados dentro e fora do palco, não passavam na verdade de exceções consentidas pela moral pública, que via atores e atrizes como seres diferentes, suspensos entre o ilícito e o artístico, aos quais não se aplicavam as regras comuns. Trata-se do último traço necessário para compor o perfil do teatro, tal como ele se apresentava na cidade mais adiantada do Brasil, o Rio de Janeiro, alguns anos após a virada histórica para o século XX. (...) – p. 172

História concisa do Teatro Brasileiro, de Décio de Almeida Prado. EdUSP; São Paulo, 2003.

"Minha Alma", por Maria Rita

Seção: 2 mil é dez!
A canção Minha Alma foi originalmente gravada pelo grupo O Rappa, no álbum Lado B Lado A: Edição Especial, no ano de 2000. Em 2005, a música ganhou nova versão (bem mais elegante) na voz de Maria Rita, sendo a sexta faixa do CD Segundo.


"A linguagem como alvo", por Moreno & Martins

Seção: Pense.
Bons argumentos não sobrevivem à má linguagem.

Cláudio Moreno & Túlio Martins, no livro Português para convencer (Editora Ática, 2006).

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"Pau no lombo de quem deixou isso tudo acontecer" (Elis Regina)

Seção: Isso aconteceu!
A gaúcha Elis Regina ficou conhecida pelo grande público como pimentinha. A razão é lógica: ardida, incômoda, notável. Na entrevista abaixo, Elis não faz questão alguma de disfarçar seu mal estar com o nível cretino das perguntas feitas. Ora, os entrevistadores deveriam ter se dado conta de que falavam com uma Pimenta, e não com uma Melancia qualquer!
Confira este tesouro da Música Popular Brasileira:




Quando questionada sobre o porquê de nem todos saberem de sua procedência gaúcha, Elis diz categoricamente:
Eu saí de Porto Alegre pra ser cantora, não pra fundar um CTG.
Quando questionada sobre a existência de lembranças do Clube do Guri, ela alfineta:
Como é que você não vai lembrar do seu nascedouro? (...) Coisa absurda! Umas perguntas que, de vez em quando, ...




Quando questionada sobre quais mensagens as letras das canções deveriam contemplar, ela escancara:
Pau no lombo de quem deixou isso tudo acontecer.
E, por fim, quando questionada sobre de que forma esse descontentamento poderia chegar ao público, ela fecha:
Isso tá sendo levado há muito tempo. Se você tem meus discos em casa, se você acompanha minha carreira, você sabe que tá.

Se Elis Regina estivesse ainda viva, talvez o Faustão tivesse a chance de se tornar um melhor apresentador. Afinal, ela já o teria mandado calar a boca inúmeras vezes.
É isso o que falta à atual geração de artistas: comprometimento com a arte, ao invés de deslumbramento com a fama.
E o que falta aos adolescentes de hoje, além de um bom puxão de orelha, é uma visita a sebos. Ao invés de se contentarem com letras superficiais de Jota Quest e Pitty, deveriam conhecer Elis Regina, Tom Jobim, Milton Nascimento, João Gilberto e contemporâneos.
(E antes que o leitor se sinta pressionado (longe de mim!), lembre-se de que conhecer não pressupõe apreciar).
Fernando Sachetti

Parônimos I

Seção: Parecia confuso?
LISTA (relação; catálogo): Já chegou a nova lista telefônica?
LISTRA (tipo de estampa de camisetas, toalhas...): Gordos devem optar por camisetas com listras verticais.
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COALIZÃO (acordo político; aliança partidária): A súbita coalizão entre os partidos políticos rivais soou estratégica.
COLISÃO (ato de colidir; choque; conflito): Na minha viagem de volta da praia, presenciei uma colisão horrível entre carros.
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CAPUZ (peça de vestuário que protege a cabeça): Os membros daquela instituição vestem capuz branco e vermelho.
CAPÔ (num veículo, superfície protetora do motor): Ao sair da boate, havia um amasso no capô do meu carro.
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DIFAMAR (falar mal de; dizer calúnias): Ela quis me difamar com todas aquelas calúnias.
DEFUMAR (processo pelo qual passam alguns alimentos que têm seu sabor realçado): Prefiro presunto defumado.
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PEITORIL (parapeito; prolongamento à altura da borda de janelas): Do peitoril, pude ver a garota que passava na calçada.
PEITORAL (relativo a peito): Que peitoral grande ele tem!
Fernando Sachetti

"O que faz o brasil, Brasil?", por Robeto DaMatta

Seção: Você pode saber mais!
Trabalho que, no nosso sistema, é concebido como castigo. E o nome diz tudo, pois a palavra deriva do latim tripaliare, que significa castigar com o tripaliu, instrumento que, na Roma Antiga, era um objeto de tortura, consistindo numa espécie de canga usada para supliciar escravos. Entre a casa (onde não deve haver trabalho e, curiosa e erroneamente, não tomamos o trabalho doméstico como tal, mas como "serviço" ou até mesmo prazer ou favor...) e a rua, o trabalho duro é visto no Brasil como algo bíblico. - p. 31
De fato, como é que reagimos diante de um "proibido estacionar", "proibido fumar", ou diante de uma fila quilométrica? Como é que se faz diante de um requerimento que está sempre errado? Ou diante de um prazo que já se esgotou e conduz a uma multa automática que não foi divulgada de modo apropriado pela autoridade pública? Ou de uma taxação injusta e abusiva que o Governa novamente decidiu instituir de modo drástico e sem consulta?
Nos Estados Unidos, na França e na Inglaterra, somente para citar três bons exemplos, as regras ou são obedecidas ou não existem. (...) Ficamos, pois, sempre confundidos e, ao mesmo tempo, fascinados com a chamada disciplina existente nesses países. Aliás, é curioso que a nossa percepção dessa obediência às leis universais seja traduzida em termos de civilização e disciplina, educação e ordem, quando na realidade ela é decorrente de uma simples e direta adequação entre a prática social e o mundo constitucional e jurídico. - p. 97/98
O que faz o brasil, Brasil?, de Roberto DaMatta - Rio de Janeiro: Rocco, 1986.

"Eu vou torcer", de Fernanda Abreu

Seção: 2 mil é dez!

As duas faces da língua - por Luiz Fagundes Duarte

Seção: Pense.
“Um linguista como eu não resiste à tentação do prazer de ver como funcionam artisticamente, nas suas mãos e depois de ter observado como funcionam nas mãos alheias, os materiais que profissionalmente está habituado a observar enquanto peças de um mecanismo de precisão."
Luiz Fagundes Duarte é crítico literário, ficcionista, professor catedrático, licenciado em Filologia Românica, mestre em Linguística Portuguesa Histórica, doutor em Línguas e Literaturas Românicas, Linguística Portuguesa.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Palavras de abertura

Como professor e artista, não consigo me desvencilhar da minha função educadora, de transformador social. E nem quero fazê-lo. Creio que esse é o meu carma - um carma que carrego prazerosamente.
O propósito maior deste blog é o de gerar reflexões acerca do rumo pelo qual a humanidade tem optado. Um mundo melhor é possível. Basta optar por ele.
Fernando Sachetti

Chico Buarque erra, mas Maria Bethânia se garante!

Seção: Isso aconteceu!

No vídeo abaixo, Chico Buarque e Caetano Veloso dão vida à canção O Quereres. A canção foi originalmente caetaneada no álbum Velô, de 1984. Sua letra, além de evocar os princípios cultista e conceptista barrocos (jogo exacerbado de palavras e ideias), é envolta numa aura dadaísta pela aproximação de termos aparentemente dissonantes. Isso torna a canção de difícil memorização.

Logo no início da execução musical que se pode checar abaixo, Chico Buarque se perde na letra. No entanto, retoma a interpretação com a classe, a estirpe e o bom humor que lhe são marca registrada. Discordando de críticas cáusticas, pessoalmente, creio que o deslize só tornou o concerto ainda mais precioso. Nada rasura ou apaga o legado que Chico e Caetano já deixaram à cultura nacional.




Enquanto isso, num outro xou...

Maria Bethânia, também cantando O Quereres, usa de uma tática atípica no mundo musical: segue a letra numa folha de papel. De fato, talvez o único a se sentir confortável e seguro o suficiente para não tropeçar naqueles complicados versos seja seu próprio criador - Caetano.

O filho de dona Canô que me perdoe, mas é necessário dizer: ninguém supera Maria Bethânia no quesito potência cênica. Sua performance, que se vê abaixo, é estupenda!




Fernando Sachetti

Dormindo num COXÃO mole. Imagina?

Seção: Parecia confuso?
COXÃO (tipo de carne de origem bovina) : Gostaria de trezentos gramas de coxão mole, por favor.
COLCHÃO (peça almofadada que se põe sobre a cama): Troquei meu jogo de quarto, mas não sabia que o preço do colchão era tão alto!
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COSTA (porção litorânea): A costa brasileira é de deixar boquiaberto qualquer turista.
COSTAS (parte do corpo humano): Estou com uma coceira terrível nas costas.
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RAIA (limite territorial; espaço delimitado): Torço pelo competidor da raia dois.
ARRAIA (espécie de peixe): Nunca vi uma arraia de pertinho... Em que regiões elas podem ser mais facilmente encontradas?
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LÓBULO (porção cartilaginosa inferior da orelha): Coloquei um alargador no lóbulo da orelha esquerda.
LOBO (designação das divisões do hemisfério cerebral - lê-se lóbo): Do Ensino Médio, me lembro que o cérebro, dentre outras partes, divide-se no lobo occipital e no lobo temporal.
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LAVA (material pastoso expelido por vulcões): Ao se solidificar, a lava forma rochas.
LARVA (estágio inicial do desenvolvimento de certos insetos, anfíbios e peixes): Alguns anfíbios passam pela fase de larva antes de atingir a fase adulta.
Fernando Sachetti

"A comunicação não-verbal", de Flora Davis

Seção: Você pode saber mais!
A maioria das pessoas percebe a gesticulação alheia, mas, em geral, ignora-a, não lhe atribuindo nenhum sentido. Contudo, esses gestos comunicam. Às vezes, eles ajudam a esclarecer quando a mensagem verbal não é muito clara. Em outros momentos, eles revelam, de modo involuntário, as emoções. Mãos muito apertadas ou que se mexem nervosamente são um sinal que os demais podem perceber fácil. Às vezes, também, o gesto tem uma funcionalidade tão clara que o significado torna-se inequívoco. (...)
Grande parte da gesticulação comum vincula-se, na verdade, ao discurso, como uma forma de ilustrar ou sublinhar o que se diz. (...)
Também é verdade que, se você pedir a alguém que repita o que disse porque você não entendeu direito, a gesticulação virá durante a repetição, se não veio na primeira vez. A gesticulação emerge quando uma pessoa tem mais dificuldade para se expressar ou quando o esforço para se fazer entender é maior. Quanto maior a excitação, mais ela exige de seu corpo a ponto de gesticular cada vez mais.
A comunicação não-verbal, de Flora Davis (páginas 83 e 89) / Summus Editorial.

"O que cantam as crianças" - José Luiz Perales e a turma do Balão Mágico

Seção: 2 mil é dez!

pensamento de Padre Manuel Antunes

Seção: Pense.
"A santidade da verdade não é cômoda. Exige daqueles que não querem tornar-se completamente indignos dela um tal sentimento de renúncia, uma tal lucidez do olhar, uma tal capacidade de solidão que só poucos, muitos poucos, sabem conquistar."Itálico
Padre Manuel Antunes - Lisboa (1918-1985)