domingo, 30 de agosto de 2009

Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues

Seção: Isto é Literatura
ALAÍDE - Nem que eu morra, deixarei você em paz!
LÚCIA - Pensa que eu tenho medo de alma do outro mundo?
ALAÍDE - Não brinque, Lúcia! Se eu morrer – não sei se existe vida depois da morte, mas se existir – você vai ver!
LÚCIA - Ver o quê, minha filha?
ALAÍDE - Você não terá um minuto de paz, se casar com Pedro! Eu não deixo – você verá!
LÚCIA - Está tão certa assim de morrer?
ALAÍDE - Não sei! Você e Pedro são capazes de tudo! Eu posso acordar morta e todo o mundo pensar que foi suicídio.
LÚCIA - Quem sabe? Eu mandei você tirar Pedro de mim?
ALAÍDE - Mas que foi que eu fiz, meu Deus?
LÚCIA - Nada!
ALAÍDE - Fiz o que muitas fazem. Tirar um namorado! Quer dizer, uma vaidade... Você, não! Você e Pedro querem-me matar. Isso, sim, é que é crime, não o que eu fiz!
LÚCIA - Mas conquistou Pedro tão mal que ele anda atrás de mim o dia todo!
ALAÍDE - Sabe para onde eu vou agora?
LÚCIA - Não me interessa!
ALAÍDE - E nem digo – minha filha! Vou ter uma aventura! Pecado. Sabe o que é isso? Vou visitar um lugar e que lugar! Maravilhoso! Já fui lá uma vez!
LÚCIA - Imagino!
ALAÍDE - Na última vez que fui, tinha duas mulheres dançando. Mulheres com vestidos longos, de cetim amarelo e cor-de-rosa. Uma vitrola. Olha: querendo, pode dizer a Pedro. Não me incomodo. Até é bom!
LÚCIA - Mentirosa!
(...)
ALAÍDE - Ouça bem. Eu posso morrer cem vezes, mas você não se casará com Pedro.
p. 74/75
Obs.: as indicações cênicas do texto original foram aqui omitidas para economia de espaço.

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