domingo, 2 de agosto de 2009

Não compre gato por lebre!

Nas duas semanas anteriores (ver data da publicação desta postagem), escrevi artigos sobre a minissérie Som & Fúria – uma produção global. O presente artigo versará sobre mais um rebento da Rede Globo – desta vez, a novela Caras & Bocas, da autoria de Walcyr Carrasco. Eu peço desculpas ao leitor se pareço cansativo e pretendo, a partir da próxima semana, mudar meu foco. No entanto, por enquanto, as circunstâncias obrigam a que eu pareça repetitivo. Vocês verão: o meu propósito é dos nobres!
Para que o leitor desavisado se situe na trama da atual novela das sete, farei um brevíssimo resumo sobre a teia que envolve os personagens que aqui me interessam: desde o início da atração, Milena (interpretada pela atriz Sheron Menezes) foi uma garota pobre que amava e acreditava no amor cafajeste de Nick (vivido pelo ator Sérgio Marone). Este, um mauricinho acostumado às regalias da vida boa, via em Milena tão somente um objeto que lhe satisfazia a libido. Entretanto, nos últimos capítulos, uma reviravolta agitou a trama, e Milena enriqueceu. Rica, ela contrata um advogado para que este convença Nick a se casar com ela em troca de um alto dote. Mas um detalhe: o advogado deve manter absoluto sigilo quanto à identidade de Milena. O que ela quer é se vingar de Nick e ter certeza, de uma vez por todas, de seu despudor.
Enquanto eu assistia à novela, senti uma espécie de déjà-vu. É como se eu já tivesse tido contato com aquela história anteriormente. E tive. Em poucos instantes, fui transportado, mentalmente, ao enredo de Senhora, livro do autor romântico José de Alencar. Nessa obra, cujos protagonistas são Aurélia Camargo e Fernando Seixas, o enredo é o mesmo de Caras & Bocas: no início, Aurélia é pobre, e Fernando somente se interessa por seus belos contornos. Depois, Aurélia enriquece e contrata um advogado para que este atraia Fernando a um lucrativo casamento arranjado. O advogado, porém, mantém em segredo a identidade da então vingativa Aurélia.
Para encurtar conversa: Walcyr Carrasco está fazendo uso, na novela, de uma ideia que não é originariamente sua. E, pessoalmente, nem de longe eu o condeno por isso. E nem acho que José de Alencar – onde quer que ele esteja – o condenaria. Eu só lamento o fato de que muitos telespectadores pouco letrados, certamente, conferirão o mérito do enredo a Walcyr Carrasco, quando, na verdade, o mérito deveria ser de José de Alencar.
No primeiro parágrafo, eu afirmei que meu propósito com este texto seria nobre. Mas, caso o leitor ainda não tenha se apercebido da minha alfinetada, serei mais direto: leia! É somente com boas leituras que conseguimos “ler” o mundo.
O trocadilho pode não ter sido dos melhores, mas espero ter dado meu recado.
Fernando Sachetti

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