segunda-feira, 20 de julho de 2009

Viagens na minha terra - Almeida Garrett

Seção: Isto é Literatura

Toda a guerra civil é triste.

E é difícil dizer para quem mais triste, se para o vencedor ou para o vencido.

Ponham de parte questões individuais, e examinem de boa fé; verão que, na totalidade de cada facção em que a nação se dividiu, os ganhos, se os houve, para quem venceu, não balançam os padecimentos, os sacrifícios do passado, e, menos que tudo, a responsabilidade pelo futuro...
Eu não sou filósofo. Aos olhos do filósofo, a guerra civil e a guerra estrangeira, tudo são guerras que ele condena – e não mais uma do que a outra... a não ser Hobbes, o dito filósofo, o que é coisa muito diferente.
Mas não sou filósofo, eu: estive no campo de Waterloo, sentei-me ao pé do leão de bronze sobre aquele monte de terra amassado com o sangue de tantos mil, vi – e eram passados vinte anos – vi luzir ainda pela campina os ossos brancos das vítimas que ali se imolaram a não sei quê... Os povos disseram que à liberdade, os reis que à realiza... Nenhuma delas ganhou muito, nem para muito tempo com a tal vitória...
(...)
Por que será que aqui não sinto senão tristeza?
Porque lutas fratricidas não podem inspirar outro sentimento e porque...
Eu moía comigo só estas amargas reflexões, e toda a beleza da charneca desapareceu diante de mim.
– p. 72

- excerto retirado da obra Viagens na minha terra, do poeta português Almeida Garrett -

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